Quando é que uma história deixa de ser história e passa a ser mentira?
Quando o meu filho era pequeno o pediatra explicou-me que quando ele dizia : não fui eu, foi o gato ( inexistente), estava apenas a dizer: gostava de não ter sido eu, gostava que tivesse sido o gato. Portanto não mentia, expressava apenas um desejo. Mais tarde as desculpas, serviam para ocultar um comportamento que sabia ser condenável, e apareceram histórias mirambulantes, mas muito bem estruturadas, com princípio meio e fim. Eram personagens fictícios, que arcavam com as culpas dos seus actos. A minha filha mais nova ao contrário em pequena, automaticamente assumia a culpa e descartava-se dela muito rapidamente dizendo: parti, paciência. Ou mesmo parti, mas não tive culpa, estava fora do sítio. Não era muito diferente, apenas a forma como expressava o seu desejo era diferente. E mais tarde as desculpas passaram a omissões, pois sem dúvida era menos imaginativa que o irmão.
Enquanto são crianças, conseguimos achar graça às histórias e ver o que está por detrás delas, mas a coisa piora nos adultos, pois como que por magia, passamos a ver nas histórias mentiras.
Por norma apartir de uma certa idade, as pessoas deixam de mentir e passam a assumir a responsabilidade dos seus actos... Será?
Gaita o copo escorregou-me das mãos! Chiça, isto não estava aqui há bocado! Quem deixou esta Porcaria no meio do corredor?
Ah, copo escorregador, que mania a destes copos. Ai, Ai, que podemos dizer destes objectos saltitões, que mudam de lugar conforme lhes dá na gana, e que dizer das porcarias que gostam de se atirar para os corredores?
Não é fácil pois não é humano, atirar com as culpas para cima do que seja, é humano errar e pôr os pés pelas mãos.
Desculpar uma mentira, isso é que é difícil. É muito difícil, pois rege-nos o medo que a mentira não seja apenas uma história, mas algo mais complexo, a ocultação de provas incriminatórias de actos inconfessáveis.
Vejemos: Hoje bati com o carro, distrai-me. Não é suficientemente digno.
versão dignificada: Imagina, que o Zé me ligou ia no meio do trânsito, e um idiota que vinha atrá de mim começa a buzinar, ultrapassa-me em grande velocidade e trava de repente na minha frente, claro que não tive tempo de travar, o Zé ouviu tudo.
Temos uma versão dignificada e com testemunhas, o que oculta?
Apenas uma distração, que poderá pensar a esposa ao saber a verdade, não me quis dizer porque estava distraído na conversa com a outra, ou coisas mais elaboradas ainda.
Passamos a vida a expressar o desejo de que tal ou tal não tivesse acontecido, e são poucos os casos em que a mentira é mais do que isso, mas como saber qual dos casos é? Não faço a menor ideia, mas uma coisa sei eu não minto desculpo-me é muitas vezes.
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